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Caldas Novas Lendas

Os tesouros ocultos da Serra de Caldas

A NEGRA DO BURACO DA SERRA

Uma suntuosa planície emerge entre os rios Piracanjuba e Corumbá, a oeste da cidade de Caldas Novas, um maciço rochoso volumoso e imponente denominado Serra de Caldas. No estertor das ebulições primitivas, formou-se a empola como fosse o centro de uma enorme fornalha, que os milênios transcorridos modificaram com resfriamento, erosões e ação do tempo, a primitiva feição do bloco. Hoje tem ele, ora encostada de planícies bizzaras formando-se grandes grotões escuros e tenebrosos, coroado por um vasto chapadão de seis quilômetros de largura por dezoito de comprimento. Numa altitude de mil metros sempre varrido por ventos suaves e ezonados, que ululam quando passam pelas ravinas dos grotões.

Desde os tempos em que os homens semicivilizados pisaram a terra de Goiá a estrutura da serra chamou a sua atenção, e os destemidos bandeirantes esmiuçavam-na por todos os lados à procura de suas riquezas. Deixando aqui e ali o sinal vivo de sua passagem nas feridas feitas pelos alviões dos companheiros de Bartolomeu Filho. O espírito crédulo dos aventureiros que constituíram este Brasil enorme criou uma lenda cheia de fantasia sobre as riquezas guardadas no âmago da serra, deixando-nos pela tradição, um conto que até hoje tem impressionado. Contava que além das águas escaldantes da encosta do oeste que forma uma bacia de cinquenta metros de raio um caudaloso ribeirão nascido ali mesmo de diversas fontes, não muito longe, havia uma gruta cujas paredes eram forradas com matizes de pedras preciosas, rutilantes e faiscantes.

O chão era coberto de ouro em pó em grossa camada, porém havia dificuldade acima das forças humanas para se alcançar a entrada da desejada gruta, colocada em lugar íngreme e fortemente guardada por vedetas sobrenaturais. Logo à entrada se achava uma negra de aspecto gigantesco, coroada de ouro e pedrarias, vestida de tecidos de cores variadas cravados de ricos brocados, tendo na destra um rutilante alfanje que aos raios solares, se inflamava como archote, fazendo iluminar toda a caverna. Era seguida por grande bode negro de barbas e chavelhos de ouro, que como cão fiel berrava à aproximação de qualquer importuno. Vinha, por fim, um grande touro preto que escavava o pó do chão com os cascos de ouro, esparzinho o metal brilhante por todos os lados e dando urros e bufos que estremeciam a serra toda. Diante de tanto empecilho quem se aventuraria a enfrentar tais inimigos? Sendo assim toda a riqueza era guardada com tanto desvelo no seio da Serra de Caldas.

A MÃO DECEPADA

Pelo fim do século XIX, o Coronel Joaquim Rodrigues da Cunha e sua mulher, Etelvina Gonzaga de Menezes residiam na fazenda Paraíso, no atual município de Caldas Novas, Goiás. Escravos já não havia então só liberto; entretanto, um casal de forros lá ficara, Quirinão e Benedita, gozando da confiança do fazendeiro, também ali trabalhando, sempre paus-para-toda-obras. Um dia o Coronel indo viajar deixou sua esposa aos cuidados da velha cozinheira da família, Salustiana, também outrora escrava. A sede da fazenda era e ainda é um sobradão daqueles tempos, com amplo porão, quase senzala, onde se amontoavam os negros, depois pouso para peões e forasteiros, enquanto, em cima, cozinha, despensa, copa, salas e quarto dos patrões. Logo na primeira noite da ausência do Coronel Joaquim Rodrigues da Cunha, pelas tantas, já no fundo da noite, Etelvina e Salustiana despertaram por um ruído surdo e violento, batidas intermitentes no assoalho, vindo a ruidança do porão.

No suflagrante, ao susto, gritando, perguntando o quê e quem é?...

Então, num relâmpago, compreendiam as duas que somente o casal de forros dormia lá embaixo, assim eles os autores das marteladas. Do porão, no abismo da noite, ouviram que os negros queriam os contos de réis do Coronel, se não matariam as duas. O dinheiro, sabiam, estava na canastra, no canto do cômodo de dormir. Completavam a ameaça dizendo que com os cobres fugiriam atafuiados nesse mundo de meu Deus, para nunca mais serem vistos. O arrombamento progredia as batidas a machado nas tabuas de madeira de lei do assoalho cada vez mais ruidosas, enquanto a fazendeira raciocinando rápido abria o armário do quarto onde o marido guardava armas, munição também facas e facões de carnear vacas e capados para o sustento da fazenda.

Empunhando um facão de fio bom de tirar o couro de boi, reparando que espirravam de toada mais e mais lascas do assoalho, tabuas se estraçalhando, viu surgir uma mão preta no buraco ali feito.  Com as duas mãos no cabo do aço afiado, num só golpe decepou, totalmente, aquela mão, separando-a do antebraço, sangue espirrando para toda banda. O cotó do antebraço torado rente ao pulso afundou num arranque no buraco, no instante em que um berro reboou no bojo da noite, daí então uma barulheira de quem bate em retirada, atropelando trastes, urros mais urros ouvidos por algum tempo até perderem-se os negros nas goelas do sertão. Dois ou três pares de dias depois arribou de volta o Coronel, ai sabedor do mal-feito dos desgraçados.

De sua confiança tomava conta de um retiro, as beiras do rio Piracanjuba, um peão conhecido por Zé Chumbo. Chamou o cujo, armou-o com duas garruchas tronchadas cabedais, picuá de munição, mandando-o bater no rastro dos forros, cobrando o desatino. O campeio dos dois crioulos não ia lá ser muito custoso para o vaqueiro, acostumado a rastrear brabeza desgarrada nas largas da fazenda. Na barra do dia, Zé Chumbo arriou uma das mulas de sela do Coronel, animal comedor de chão, largando atrás dos fujões que lá iam atravessando o rio Corumbá a vau, então na seca, cortando volta de moradores, roubando canoa para atravessar o rio Paranaíba, dias e dias demandando a região da então Farinha Podre, Uberaba, para cruzar o rio Grande, afundando-se em São Paulo Cortaram os forros por fora de Araguari, Uberabinha, punho do negro sempre sangrando, juntando bicho e muriçoca, cotó doendo na dor dos infernos.

Vazando capoeiras, mato e saroba, atafulhando pelo sertão mineiro, Zé Chumbo foi sabedor da boca de um povo arranchado depois do Paranaíba, da noticia da passagem dos tinhosos, batendo para o rumo da serra da Mangabeira. Pisando quente, a mula ruana ripostando bem, com pouco mais de uns dias de prazo, o rastreador esbarrou na culatra dos crioulos. Assim, pela dobra de um dia, no negaceio de quem caça onça-pintada Zé Chumbo topou num capão de mato, escambichados, os dois, o Quirinão gemendo, excomungando o mundo, a Benedita choramingando. Dois dias depois um campeiro de uma fazenda das beiras do rio Borá, povo de Uberaba, topou dois negros, um homem e uma mulher, com rombos nos peitos por tiros de garrucha, o macho com o cotó do pulso pura bicheira, ademais sem as orelhas do lado direito cortados a faca, rente aos ouvidos. Pisando quente, retornou Zé Chumbo com os documentos do castigo, recebendo do Coronel a gratidão mais um adjutório em cabedais.

Nunca mais se ouviu falar que alguém na fazenda do Paraíso ou das suas imediações se dispusesse a qualquer tipo de arte de malquerença os Godoy de Morrinhos e de Caldas Novas, netos, bisnetos e tetranetos do Coronel Bento José de Godoy e de Maria Tereza de Godoy, ela filha de Etelvina Gonzaga de Menezes, ele genro do Coronel Joaquim Rodrigues da Cunha, conhecem a história, ou versão dessa tragédia. A fazenda Paraíso, com seu sobrado, ainda esta lá bem conservados, propriedade atual de Sebastião Godoy, neto de Bento José de Godoy, bisneto da denodada e corajosa Etelvina Gonzaga de Menezes Rodrigues da Cunha.

ÁGUAS TERMAIS DE DOIS MIL ANOS E O MITO DO VULCÃO

O que há por baixo da cidade de Caldas Novas e da Serra de Caldas Novas?

O geólogo e pesquisador que já trabalhou na perfuração de poços de petróleo, Fábio Floriano Haesbaert, chegou a cidade em 1987. Desde a época desenvolve trabalho profissional e busca conhecimentos em outras partes do Brasil e do mundo para conhecer melhor as águas termais de Goiás. Muitas pesquisas foram feitas por exemplo pela Universidade Técnica de Berlim. "Os pesquisadores vinham da universidade, faziam trabalhos e dávamos o apoio, trocávamos experiências e conseguíamos ir desenvolvendo e entendendo melhor o Aquífero Termal", recorda. Milhares de turistas procuram a Cidade de Caldas Novas e Rio Quente, em Goiás, pelo potencial balneário e a divulgação de que as águas termais têm potencial de cura. O geólogo Fábio Haesbaert se destaca por conhecer essas águas.

Geologicamente o que conhecemos em Caldas Novas?

Quando se chega a Caldas Novas o que chama a atenção e destaca-se no horizonte é a Serra de Caldas Novas. Essa serra é uma feição de muita importância em termos ambientais, tanto para preservação da vegetação que está preservada em um parque estadual quanto para nossas águas. Antigamente achávamos que a serra era um vulcão. A partir da década de 80 os últimos estudos verificaram que, tanto na superfície quando em subsuperfície, em profundidade, você não encontrava nenhuma feição de vulcanismo. Se pudéssemos fazer um corte no terreno e olhar por baixo de Caldas Novas veríamos que todo esse pacote, onde a cidade está assentada, está dentro de uma antiga depressão, um grande buraco, que foi enchido de sedimentos, de areia. Tínhamos aqui um mar. Era uma região lacustre.

Nosso planeta, ao longo dos milhares de anos, foi mudando a feição e até hoje ele está movimentando. Temos a tectônica de placas e o Brasil separando da África. Mas há cerca de um bilhão de anos tínhamos um grande lago e foram depositados sedimentos marinhos. Com certeza, naquela época, a água era até mais salgada do que hoje. Depois essa deposição foi se consolidando, se transformando em rocha, ocorrendo diversos movimentos compressivos que propiciaram a formação da Serra de Caldas Novas. A serra hoje está erguida devido a movimentações da crosta terrestre que a arquearam. Por isso que formou esse domo. Primeiro teve a formação da depressão com água, depois houve a deposição de sedimentos, de areias, de argilas, e a transformação em quartzitos e rochas argilosas. Depois houve movimentações que comprimiram, dobraram e soergueram a rocha, surgindo ali a Serra de Caldas Novas. Em baixo de Caldas Novas há grandes cavidades, como cavernas, há mais de 400 ou 500 metros de profundidade e locais de aberturas enormes lá em baixo, diz Fábio Haesbaert.

A altura da Serra de Caldas Novas seria a original de antiga época?

No local onde Caldas Novas foi edificada temos um grupo de rochas que chamamos de grupo Araxá que é mais argilosa e mais fácil de erodir do que os Quartzitos, o outro tipo de rocha, que existem na Serra de Caldas. Os Quartzitos da Serra de Caldas são chamados de grupo Paranoá. O tipo de rocha da Serra de Caldas Novas é um e o de Caldas Novas é outro. Aquelas rochas da Serra de Caldas Novas mergulham por baixo de Caldas Novas. Há milhares de anos você tinha um pacote de Quartzitos do Paranoá e um pacote argiloso do Araxá em cima. Tudo foi dobrado em conjunto. Depois foi erodido. A parte de Caldas Novas, que é mais mole, erodiu mais depressa e formou uma depressão maior e a Serra de Caldas Novas ficou destacada. Além do dobramento que existiu naquele domo da serra, tivemos uma erosão em volta, nas rochas do Araxá que são rochas mais moles do que as rochas da serra.

Falamos de um bilhão de anos atrás. E o Cerrado passou por um soerguimento no passado. Como a região de Caldas Novas se comportou nesse soerguimento?

Na época da formação das rochas, onde hoje é Caldas Novas, os organismos que existiam eram bem primitivos, as primeiras algas, depois trilobitas... Havia aqui um mar que não sabemos qual era o seu formato, mas sabemos que havia um mar, porque na Serra de Caldas Novas temos o registro fóssil desse ambiente antigo. Você vê dentro do Quartzito marcas de ondas daquele mar. Foi possível conservar a marca antiga porque foram marcadas as areias, a água recuou e, em seguida, veio uma camada de argila que foi tampando, através de um evento rápido, catastrófico ou não.

Uma rocha que vai sendo comprimida pela variação de temperatura e pressão, sendo metamorfizada. Os sedimentos foram endurecendo e, como tinham sido protegidos em cima, ficaram sinais ou as marcas de ondas dentro dos Quartzitos da Serra de Caldas Novas, mostrando que tínhamos água aqui há um bilhão de anos. Em todo o Estado de Goiás tínhamos um grande mar e também os crátons. Tinha o cráton do São Francisco, que era uma região muito antiga, com mais de um bilhão de anos. Cratons são blocos de rochas antiguíssimos. Em volta tínhamos água. Toda essa nossa região teve uma grande movimentação para a formação das rochas como o soerguimento, o recuo do mar, a regressão e a transgressão. Ocorrências normais durante os eventos geológicos. A Serra de Caldas Novas foi um evento pontual e isolado onde também houve um soerguimento.

Auguste de Saint-Hilaire veio a Caldas Novas para analisar a água. Como foi essa passagem pelas águas termais?

Vários naturalistas vieram a Caldas Novas pesquisar as águas. Auguste de Saint-Hilaire passou aqui em 1818. Veio fazer um trabalho para o governo Imperial. Na época relatou o número de fontes e temperatura de águas, o que é muito interessante. Comparamos agora e vemos que as águas estão nas mesmas temperaturas da época de Auguste de Saint-Hilaire. Ele esteve em Caldas Novas e também em Rio Quente. Depois disso vários outros pesquisadores vieram, vários médicos, pessoas de Minas Gerais, que trabalhavam em Araxá. Foram feitos vários estudos detalhados que qualificaram melhor as águas. As águas têm potencial de cura.

As águas termais de Caldas Novas estão dentro de um bolsão de rochas?

Superficialmente temos uma serra que se destaca e uma planície em volta. Se pensarmos geologicamente, em baixo de Caldas Novas e da Serra de Caldas, temos uma grande depressão, um buraco enorme. Neste buraco, na crosta terrestre, os sedimentos foram depositados e se transformaram em rocha. Essas rochas, que estão dentro dessa grande cavidade, estão intensamente fraturadas, quebradas. As rochas têm grandes rachaduras porque foram muito movimentadas, dobradas e chegaram até a arquear, formando um cocuruto que é a Serra de Caldas Novas.

A grande formação de fraturas, que se comunicam entre si, chega a mais de 1000 metros de profundidade. Isso formou um ambiente muito interessante porque permitiu que a água de chuva descesse em profundidades elevadas. A água de chuva cai no terreno e entra no solo. O topo da Serra de Caldas Novas é bem plano. O solo ali funciona como uma esponja que capta a água, absorve e, embaixo do solo, onde há rachaduras na rocha, a água começa a descer lentamente. Nessas fendas a água desce mais rápido em cima e, depois, vai diminuindo a velocidade porque as fraturas fecham um pouco.

Outra anomalia que temos em baixo de Caldas Novas são grandes cavidades, como cavernas, há mais de 400 ou 500 metros de profundidade. Há locais de aberturas enormes lá em baixo. Como a crosta terrestre esquenta à medida que se desce para o interior da Terra, a água de chuva, ao descer nas fraturas, vai esquentando, pela troca de calor através do contato com a rocha. Durante a descida a água também vai se mineralizando. Ela vai absorvendo os elementos químicos das rochas por onde passa que são xistos, quartzitos... Vai havendo toda uma troca iônica.

E depois de a água descer 1000 metros?

Existe toda uma questão da pressão e temperatura envolvida. A água entra na Serra de Caldas Novas e o nível da água lá é muito mais alto do que em Caldas Novas. Depois de atingir os 1000 metros ela sai, por outras fraturas, na cidade de Caldas Novas, na Lagoa de Pirapitinga e no Rio Quente. Onde hoje temos o Estado de Goiás, no passado geológico tinhamos, região de mar, gelo, e deserto. Tivemos a época que aqui foi mar, fazes de gelo com glaciações no globo todo. Tivemos épocas de secas. O mar já teve inundações homéricas, degelo, fases de grandes inundações, de grandes secas.